SOMOS DO CONTRA

Bem vindos a este espaço que se quer acima de tudo de contestação e de humor.
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Bater no ceguinho.
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Da politica ao futebol, passando pela religião.
Não queremos e não vamos poupar ninguém.

Vamos então começar que se faz tarde...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ainda sobre o caso Face Oculta

Aqui há dias o nosso Excelentíssimo moderador colocou uma postagem em que se limitava a copiar dois artigos (um do Miguel Sousa Tavares [BLEARGHHH] e outro do Mário Crespo) sobre o caso Face Oculta, ora eu não sou menos que ele e por isso vou fazer a mesma coisa.
Só que a crónica que eu copiei é de um GRANDE senhor da escrita nacional e não um desses senhores que ninguém conhece (desculpe lá qualquer coizita Sr. Mário Crespo)...
A crónica que eu vou por aqui foi escrita e publicada na Visão pelo inconfundível Ricardo Araújo Pereira!
E digo desde já que concordo com cada palavra dele.

Vamos então à crónica:



Armando Vara na vara criminal
Que os índices de desenvolvimento estagnem, ou até regridam, não me choca nem surpreende. É habitual. Mas que as actividades ilícitas andem, elas próprias, nas ruas da amargura, deixa-me deprimido

O que se oferece a quem já tem tudo? Um cheque de 10 mil euros é uma boa hipótese. Há ofertas que sabem sempre bem, e um cheque de 10 mil euros é simultaneamente prático e elegante. É elegante por ser, no fundo, uma mensagem escrita num tempo em que as pessoas já não escrevem umas às outras, o que é desde logo comovente. É prático, porque ninguém se queixa de já ter um igual e, na hipótese remota de não gostar, trata-se de um presente que se pode trocar em qualquer altura. Nomeadamente, por bens no valor de 10 mil euros.

Dito isto, e por muitos méritos que as hipotéticas ofertas de 10 mil euros possam ter, é forçoso assinalar que o caso Face Oculta embaraça, e de que maneira, José Sócrates e o partido socialista. Ainda há pouco tempo, figuras importantes do PSD foram enredadas num escândalo que envolvia milhões desviados da banca. Quando militantes destacados do PS aparecem ligados a crimes, o melhor que conseguem é uma suspeita de pagamento ilícito de 10 mil euros, levado a cabo por um sucateiro. De um lado, o glamour social-democrata da alta finança, das off-shores, dos grandes grupos económicos; do outro, a falta de estilo do ferro-velho e do lixo. Estamos perante corrupção pelintra, que é um oximoro difícil de compreender: na origem da corrupção costuma estar a ganância. Aceitar subornos de 10 mil euros ao mais alto nível é como ser depravado a dar beijinhos na testa.

Quando surgiu, o caso Face Oculta foi justamente recebido por todos com algum entusiasmo, pelo contributo que dava para desenjoar os portugueses dos escândalos do Freeport, do BPN, do BPP e dos submarinos, entre outros. Era um caso cujo processo seria interessante acompanhar, desde o momento inicial da investigação até ao dia em que, vários anos depois, uma prescrição ou um vício de forma acabe por absolver todos os arguidos menos o mais pequenino. No entanto, quando começaram a ser conhecidos os pormenores, o caso passou de simpático a aflitivo. Se se confirma que administradores de grandes bancos recebem 10 mil euros em troca de favores, quanto receberá, hoje em dia, um vereador corrupto, um administrativo gatuno, um vulgar funcionário vigarista? Eu sou do tempo em que fechar ilegalmente uma marquise custava mais do que 10 mil euros só em luvas. O que está a acontecer ao meu país? Que os índices de desenvolvimento estagnem, ou até regridam, não me choca nem surpreende. É habitual. Mas que as actividades ilícitas andem, elas próprias, nas ruas da amargura, deixa-me deprimido. Falhar onde nunca fomos bons não é novidade; fraquejar onde sempre fomos grandes, mói um bocadinho.

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