SOMOS DO CONTRA

Bem vindos a este espaço que se quer acima de tudo de contestação e de humor.
Dizer mal só por dizer.
Bater no ceguinho.
Deitar abaixo pelo prazer de deitar abaixo.
Da politica ao futebol, passando pela religião.
Não queremos e não vamos poupar ninguém.

Vamos então começar que se faz tarde...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sobre o processo face oculta

Os textos que se seguem não são da autoria de nenhum dos autores deste blogue (aliás o nome dos autores estão indicados no inicio de cada texto) mas como reflectem e bem a opinião (pelo menos a minha) sobre este caso ficam aqui os testemunhos.
Eu sei que a maioria dos que escrevem neste blogue (e eu incluído) detestam o autor do primeiro texto. É arrogante, convencido, segundo me dizem intratável... e na minha opinião (compartilhada por muita gente que conheço) se não fosse filho de quem é nunca teria chegado onde chegou.
Mas uma vez por outra acerta nas criticas e esta foi uma delas.
Pelo contrário o autor do segundo texto é alguém que admiro imenso.

*"O Factor Vara"... (Miguel Sousa Tavares**)
Toda a 'carreira', se assim lhe podemos chamar, de Armando Vara, é uma história
que, quando não possa ser explicada pelo mérito (o que, aparentemente, é regra), tem
de ser levada à conta da sorte.
Uma sorte extraordinária. Teve a sorte de, ainda bem novo, ter sentido uma
irresistível vocação de militante socialista, que para sempre lhe mudaria o destino
traçado de humilde empregado bancário da CGD lá na terra.
Teve o mérito de ter dedicado vinte anos da sua vida ao exaltante trabalho político no
PS, cimentando um currículo de que, todavia, a nação não conhece, em tantos anos de
deputado ou dirigente político, acto, ideia ou obra que fique na memória.
Culminou tão profícua carreira com o prestigiado cargo de ministro da Administração
Interna - em cuja pasta congeminou a genial ideia de transformar as directorias e as
próprias funções do Ministério em Fundações, de direito privado e dinheiros públicos.
Um ovo de Colombo que, como seria fácil de prever, conduziria à multiplicação de
despesa e de "tachos" a distribuir pela "gente de bem" do costume.
Injustamente, a ideia causou escândalo público, motivou a irritação de Jorge Sampaio
e forçou Guterres a dispensar os seus dedicados serviços.
E assim acabou - "voluntariamente", como diz o próprio - a sua fase de dedicação à
causa pública.
Emergiu, vinte anos depois, no seu guardado lugar de funcionário da CGD, mas agora
promovido por antiguidade ao lugar de director, com a misteriosa pasta da
"segurança". E assim se manteve um par de anos, até aparecer também subitamente
licenciado em Relações Qualquer Coisa por uma também súbita Universidade,
entretanto fechada por ostensiva
fraude académica.
Poucos dias após a obtenção do "canudo", o agora dr. Armado Vara viu-se promovido -
por mérito, certamente, e por nomeação política, inevitavelmente - ao lugar de
administrador da
CGD: - assim nasceu um banqueiro.
Mas a sua sorte não acabou aí: -ainda não tinha aquecido o lugar no banco público, e
rebentava a barraca do BCP, proporcionando ao Governo socialista a extraordinária
oportunidade de domesticar o maior banco privado do país, sem sequer ter de o
nacionalizar, limitando-se a nomear os seus escolhidos para a administração, em lugar
dos desacreditados administradores de "sucesso".
A escolha caiu em Santos Ferreira, presidente da CGD, que para lá levou dois homens
de confiança sua, entre os quais o sortudo dr. Vara.
E, para que o PSD acalmasse a sua fúria, Sócrates deu-lhes a presidência da CGD e
assim a meteórica ascensão do dr. Vara na banca nacional acabou por ser assumida
com um sorriso e um tom "leve".
Podia ter acabado aí a sorte do homem, mas não. E, desta vez, sem que ele tenha
sido tido ou achado, por pura sorte, descobriu-se que, mesmo depois de ter saído da
CGD, conseguiu ser promovido ao escalão máximo de vencimento, no qual vencerá a
sua tão merecida reforma, a
seu tempo. Porque, como explicou fonte da "instituição" ao jornal "Público", é prática
comum do "grupo" promover todos os seus administradores-quadros ao escalão
máximo quando deixam de lá trabalhar.
Fico feliz por saber que o banco público, onde os contribuintes injectaram nos últimos
seis meses mil milhões de euros para, entre outros coisas, cobrir os riscos do dinheiro
emprestado
ao sr. comendador Berardo para ele lançar um raide sobre o BCP, onde se pratica
actualmente o maior spread no crédito à habitação, tem uma política tão generosa de
recompensa aos seus administradores - mesmo que por lá não tenham passado mais
do que um par de anos.
Ah, se todas as empresas, públicas e privadas, fossem assim, isto seria
verdadeiramente o paraíso dos trabalhadores!
Eu bem tento sorrir apenas e encarar estas coisas de forma leve. Mas o 'factor Vara'
deixa-me vagamente deprimido. Penso em tantos e tantos jovens com carreiras
académicas de mérito e esforço, cujos pais se mataram a trabalhar para lhes pagar
estudos e que hoje concorrem a lugares de carteiros nos CTT ou de vendedores porta a
porta e, não sei porquê, sinto-me deprimido.
Este país não é para todos.
P.S. - Para que as coisas fiquem claras, informo que o sr. (ou dr.) Armando Vara tem a
correr contra mim uma acção cível em que me pede 250 000 euros de indemnização
por "ofensas ao seu bom nome". Porque, algures, eu disse o seguinte: "Quando entra
em cena Armando Vara,
fico logo desconfiado por princípio, porque há muitas coisas no passado político dele
de que sou altamente crítico". Aparentemente, o queixoso pensa que por "passado
político" eu quis insinuar outras coisas, que a sua consciência ou o seu invocado "bom
nome" lhe sugerem.
Eu sei que o Código Civil diz que todos têm direito ao bom nome e que o bom nome se
presume. Mas eu cá continuo a acreditar noutros valores: - o bom nome, para mim,
não se presume, não se apregoa, não se compra, nem se fabrica em série - ou se tem
ou não se tem.
O tribunal dirá, mas, até lá e mesmo depois disso, não estou cativo do "bom nome" do
sr. Armando Vara.
Era o que faltava!
Acabei de confirmar no site e está lá, no site institucional do BCP.
Vejam bem os anos de licenciatura e de pós-graduação!!!!! :
- Armando António Martins Vara Dados pessoais: Data de nascimento: 27 de
Março de 1954 Naturalidade: Vinhais - Bragança Nacionalidade: Portuguesa
Cargo: Vice-Presidente do Conselho de Administração Executivo Início de Funções:
16 de Janeiro de 2008 Mandato em Curso: 2008/2010 Formação e experiência
Académica Formação: 2005 - Licenciatura em Relações Internacionais (UNI)
2004 - Pós-Graduação em Gestão Empresarial (ISCTE)
http://www.millenniumbcp.pt/pubs/pt/grupobcp/quemsomos/orgaossociais//article.j
html?articleID=217516

Extraordinário... CV de fazer inveja a qualquer gestor de topo, que nunca tenha
perdido tempo em tachos e no PS !
Conseguiu tirar uma Pós-graduação ANTES da licenciatura...
Ou a pós-graduação não era pós-graduação ou foi tirada com o mesmo professor da
licenciatura, dele e do Eng. Sócrates...
e viva o BCP e o seu "bom nome" !!!

(Mário Crespo)


Os intocáveis
00h30m
O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa.
Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.
O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras. Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação. Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (…)". O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato. Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos. Por esses, Sócrates tem de responder. Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.
Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim. Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos grandes ninguém toca.

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